UHF : Ares e Bares de Fronteira
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1. DE CARROCEL
Ai, eu conheci esta terra
Nos solavancos do carrocel,
Eu era puto nesta terra
A que muitos chamam doce mãe.
Cresci no prejuízo da guerra
Ser herói numa pobre nação,
Que armou cretinos em feras
Na fome e na sedução.
Ai, ai, eu quero
Ai, eu quero andar no carrocel
No carrocel da multidão.
Ai, eu conheci esta terra
Nos solavancos do carrocel,
Hoje sou homem nesta terra
A que muitos tratam só por mãe.
E eu vivi sempre à espera
De saldos em fim de estação,
Vi tantos caírem na espera
Lá fora estendendo a mão.
Ai, ai, eu quero
Ai, eu quero andar no carrocel
No carrocel da multidão.
Ai, eu conheci esta terra
Nos solavancos do carrocel,
Amanhã serei estrume nesta terra
A que muitos chamam negra mãe.
E esta terra tem de ser a festa
O novo rumo da multidão,
Deitar fora se não presta
E adubar o solo da criação.
Ai, ai, eu quero
Ai, eu quero andar no carrocel
No carrocel da multidão,
Ai, eu quero voltar, ai, eu quero voltar.
2. EU SEI RECOMEÇAR
Pára essa conversa surda
A noite escreve por si,
E no vazio da denúncia
Sou eu que estou aqui.
Sei que às vezes abuso
No truque da ambiguidade,
Quero ver-te sair do escuro
No seio da claridade.
Mas eu sei, eu sei, eu hei-de recomeçar
Mas eu sei, eu sei, eu hei-de recomeçar.
Sei que gostas da diferença
Esta noite presa em álcool,
Do meu caminho estridente
À beira de um passo final.
Pouco ficou p'ra notícia
No quarto azul arrumado,
Veredas à sombra da vida
Legendas e fracasso.
Mas eu sei, eu sei, eu hei-de recomeçar
Mas eu sei, eu sei, eu hei-de recomeçar.
3. DEVO EU
Devo eu dizer que te quero
E que a espera me destrói o desejo,
Devo eu ser sincero
E revelar-te o que penso.
Devo eu, devo eu
Devo eu, devo eu ser sincero.
E se eu quiser transformar
Chapinhar na calmaria,
Por certo vou molhar
O rosto da tua alegria.
Devo eu, devo eu
Devo eu, devo eu ser sincero.
E devo eu, devo eu
Devo eu, devo eu ser sincero.
Um homem pode sempre dançar
Segurado no seu encanto,
E pode sempre inventar
As ilusões do seu tamanho.
Devo eu, devo eu
Devo eu, devo eu ser sincero, ser sincero.
4. CHRIS
Quatro da manhã, pleno cansaço
Paramos o silêncio dentro do carro,
Falou-se pouco, embaciados
Fixos no tempo do último cigarro.
Partir sempre, é urgente partir
O frio dormente e eu a cair,
Cair em mim, em pleno sono
Pensando em ti e no teu mundo.
Tens de partir de qualquer forma
Tens de partir de qualquer forma,
As coisas já não vão bem
As coisas já não vão bem, de qualquer forma.
Fico à beira do lago e as palavras fogem
Estou à beira do estrago e as palavras morrem,
No brilho das águas, reflexos de Chris
Entoando sonetos numa rua de Paris.
Tenho de partir de qualquer forma
Tenho de partir de qualquer forma,
As coisas já não vão bem
As coisas já não vão bem, de qualquer forma.
5. CELULÓIDE (PARA IAN CURTIS)
Sangue correndo nas veias
Cães uivando no cérebro,
Ares e bares de fronteira
Viagem sem regresso.
Noites de frio intenso
Na penúria do quarto,
Mulher no meu abrigo
Bebe tv, sorve cigarros.
Eu e a minha guitarra
Eu e a minha guitarra fazendo o pino.
Não me atires palavras
Pelo menos vazias,
Serve-me copos de whisky
P'ra m'aquecer as tripas.
O que eu sei da vida
Já não faz sentido,
São horas compridas
E um embrulho vazio.
Servo, sinto o filme
Seca, seco, queima o símbolo
Ermo, ergo, ego, o filme, o filme
Eu, eu quero ficar aqui.
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