UHF : Persona Non Grata

Rock / Portugal
(1982 - Radio Triunfo)
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Lyrics

1. PERSONA NON GRATA

Desde os bancos da escola
Na rua em que cresci,
Aprendi a desarmar
As armadilhas que vi.

Com ideias em chamas
E nuvens no olhar,
Fui cortando as amarras
Conversando sem falar.

Rola, rola, persona non grata
Rola, rola, persona non grata.

Dei comigo homem feito
Entre bonecos de palha,
Uns políticos suculentos
Outros figuras mutiladas.

Ah, não me calem a voz
Vou destruir a desgraça,
Que essa marca lusitana
Francamente não me agrada.

Rola, rola, persona non grata
Rola, rola, persona non grata.

Farto da espera
E de aguentar,
Abram-me as portas
Que eu vou entrar.

Rola, rola, persona non grata
Rola, rola, persona non grata
Persona non grata, persona non grata.


2. AGARRA-ME O JUÍZO (SE PUDERES)

Quero ser dois homens ao mesmo tempo
Sentir-me bem em qualquer lado
Na terra quente ou no oceano, em qualquer lado.

Não sei dar amor nem sequer vou fingir
Receio os teus passos, a mentira
O jogo fino dos humanos seres, mais humanos, grotescos.

Agarra-me o juízo, se puderes
Agarra-me o juízo, se puderes.

Agarra-me o juízo se souberes que minto
Eu jogo com as palavras enquanto me cresce a barba
Na travessia do Tejo não há brilho no que vejo.

Não comeces a chorar que o jogo vai durar
Por dentro da hipocrisia, tudo ainda por pedir
E até contentamento e bens de consumo no testamento.

Agarra-me o juízo, se puderes
Agarra-me o juízo, se puderes.


3. VOO PARA A VENEZUELA

A avenida tem palmeiras dançando
Nos meus olhos o teu corpo vibrando,
Vento forte marca o desejo
Porque tu já cá não estás deitada,
No meu quarto, no meu quarto.

A revolta torna a crise passageira
Velha amiga o teu choro engana,
Perco os dias, marco as horas
Preso ao sabor do teu corpo,
No meu quarto, no meu quarto.

Fumo espesso no cansaço em chamas
Esta vida é um templo de palavras,
O silêncio afoga a memória
O vinho é o fim da história da mulher que ri,
No deserto, no deserto.

No deserto - no meu quarto
No deserto - no meu quarto.


4. FIM DE VIDA

Nunca encontrei o homem
De quem vos vou falar,
Sei que o morte lhe trouxe um dia
O que a vida não quis dar.

Tinha perdido a mulher num acaso da vida
Restava-lhe um filho rebento, de pouco meses,
Tenro (vocês conhecem os termos) ainda.

No cartão do sindicato estava timbrado jornalista
Mas ele perdera o emprego e a noção,
A velha, dura, filha da puta noção do que é a vida.

Tentou várias saídas que não resultaram
Passou pelos velhos amigos, postiços, políticos,
Mas a fome (fome, fome, fome) a fome espreitava.

Vida, o que é a vida?.
Assim a vida, não é vida.

Um dia concluí que a vida se recusava
À volta um mundo frio, imenso, de aço,
Soberbo, crucificado de palha organizado em cada casa.
Primeiro matou o filho, depois escreveu as palavras
Vincando as malhas da sorte da segurança social,
Da assistência das mentiras decentes, que em vão tentara.

Vida, o que é a vida?.
Assim a vida, não é vida.


5. CHAMEM-ME NARCISO

Tenho as olheiras vincadas por noites
Em que fiquei parado a meditar, pasmado a usar
O meu corpo no teu corpo, longas noites.

Chamem-me Narciso, Narciso é um belo nome
Chamem-me Narciso, Narciso é um belo nome.

Mulheres fantasia, bailam no silêncio
Toques de ternura, répteis no encanto,
Amanhã, meu Deus, um dia novo
Em que os anjos tenha sexo, finalmente, sexo finalmente.

Chamem-me Narciso, Narciso é um belo nome
Chamem-me Narciso, Narciso é um belo nome.


6. UM MAU RAPAZ

Sou o mau da fita
Sou o filho enjeitado,
Sou a noite no teu dia
Sou a obra do diabo.

Sou o assassino
Que vagueia pela cidade,
Procurando vítimas
E ganhando publicidade.

Sou esse animal
Que destrói o teu sossego,
O monstro das sete cabeças
Que aperta o cerco.

Sou o inimigo
Que expia o teu azar,
O prisioneiro da história
Mais fácil de acusar.

Sou, sou um mau rapaz
Sou, sou um mau rapaz.

Sou, sou um mau rapaz
A tua melhor prenda de Natal
Sou, sou, sou, sou um mau rapaz
A tua melhor prenda de Natal,
Sou, sou.

Sou, sou um mau rapaz
Sou, sou o mau da fita
Sou, sou um mau rapaz
Sou ooh, sou ooh, o mau da fita
Sou o mau da fita.


7. DANÇA DE CANIBAIS

Tomo-te o gosto, no cheiro, no andar deslizante
Por aí, a calhar, com apetite violência,
Passo a teu lado, saboreando, saboreando.

És a mulher de alguém, baloiçando as ancas como ninguém
Quero deitar-te a mão, antes que desapareças,
Baloiçando as ancas como ninguém
Saboreando, saboreando.

O meu desejo é parar o mundo
No jogo tique da esperteza,
Falar sem luz no escuro
Ganhando mais clareza.

O meu desejo é abrir os sonhos
Seguirmos algum tempo juntos,
Juntos, ah ah... Saboreando, saboreando.


8. QUEBRA-ME

Ninguém quer a verdade, que ela estremece
O mais belo sorriso no momento exacto,
Golpes de mão, hábeis sem ruído
Cidadãos vorazes sem preço fixo,
Não sou daqui, desta nacionalidade
Sou do mundo e procuro ver a claridade.

Quebra-me! Quebra-me!

Daqui não quero mais do que a fome e a justiça
O resto são serviços e serão cumpridos,
Vamos vivendo uma vida apressada
Palavras sem fundo e linhas trocadas,
Quebra-me querida o cinismo envolvente
Quebra-me o feitiço, o acto é decente.

Quebra-me! Quebra-me!
Quebra-me! Quebra-me!


9. CORPO ELÉCTRICO

Passou sempre sozinho
Por noites inteiras,
Bebendo desse vinho
Que queima nas veias.

As veias do pensamento
O amor em suicídio,
Cavaleiro serpenteando
À procura de um abrigo.

Todos sabiam seu nome
Chamavam-lhe corpo eléctrico
Corpo eléctrico, corpo eléctrico.

Seres que hão-de ser
Figurinos ambulantes,
Passaram aí a correr
À frente do viajante.

Rumando p'ro infinito
Sem armas nem bandeira,
Na memória o prejuízo
Dessa tribo desfeita.

Todos sabiam seu nome
Chamavam-lhe corpo eléctrico
Corpo eléctrico, corpo eléctrico.

Hoje cairei sozinho
A noite inteira,
Bebendo no teu armistício
Lenta, doce, bebedeira.

Corpo eléctrico corpo eléctrico
Corpo eléctrico corpo eléctrico.

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