UHF : UHF - Essencial
Las palabras
1. CAVALOS DE CORRIDA
Agora, que a corrida estoirou
e os animais se lançam no esforço,
Agora, que todos eles aplaudem
a violência em jogo.
Agora, que eles picam os cavalos
violando todas as leis,
Agora, que eles passam ao assalto
e fazem-no por qualquer preço.
Agora, agora, tu és um cavalo de corrida.
Agora, que a vida passa num flash
e o paraíso é além,
Agora, que o filme deste massacre
é a rotina Zé Ninguém.
Agora, que perdeste o juízo
a jogar esta cartada,
Agora, que galopas já ferido
procurando abrir passagem.
Agora, agora, tu és um cavalo de corrida
Agora, agora, tu és um cavalo de corrida.
2. RAPAZ CALEIDOSCÓPIO
Um intelectual de ar estafado
um homem de faces cavadas na noite,
Cruza o Bairro Alto no silêncio dos ténis claros
em passos largos de dança.
Ele é um duro como rock
fã da violência,
E olha a vida pelos óculos
gingando cadência,
Veste cabedal que é napa preta,
Heyahoh la la la.
Quando a fome aperta
ele toma o caminho da fábrica ou do estaleiro,
E na próxima fuga entra na pele do animal
que o torna agressivo, reputação ideal.
Ele é um duro como rock
fã da violência,
E olha a vida pelos óculos
gingando cadência,
Veste cabedal que é napa preta,
Heyahoh la la la.
3. ESTOU DE PASSAGEM
Dá-me abrigo por esta noite
dá-me abrigo por esta noite,
Procuro conforto no teu cobertor
a noite prepara jogos de amor,
Febre que sobe e acende a fogueira
entre as chamas vivas da fogueira.
Dói-me cá dentro ao certo não sei
dói-me cá dentro ao certo não sei,
Dói-me o inferno da minha arte
dói-me o silêncio da tua carne,
Feito sossego nas minhas mãos
é quente o silêncio das tuas mãos.
Dá-me um bilhete p'ro inferno.
São línguas de fogo que entram no corpo
são línguas de fogo que entram no corpo,
São noites de assombro e descoberta
em busca da vida estou de passagem,
Parto contigo na minha bagagem
parto sozinho p'ra longa viagem.
Dá-me um bilhete p'ro inferno.
4. SER UM ACTOR
Há gelo nos olhos quando regresso
depois do concerto, circuito fechado,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Cinzas de luz, o sangue foi quente
soltamos as rédeas, a música ardendo,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Mas eu quero voltar, mas eu quero voltar.
O som do fracasso, o som da garganta
o truque do homem, no grito na dança,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Velhas feridas sangram a memória
o poeta abre-as e o sangue jorra,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Mas eu quero voltar, mas eu quero voltar.
Ser um actor, ser um actor, ser um actor,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Mas eu quero voltar, mas eu quero voltar.
5. GERALDINE
Dona de passagem na avenida
mulher de corpo de marfim,
Sopras o fumo na minha cara
e nem sequer me vês à passagem.
Geraldine foi violada
no quarto da mãe,
E agora passeia estoirada
no ritmo que a vida tem.
Sem descanso nem horário
Geraldine tem de cumprir,
P'ra sacar o ganho
que o chulo vai consumir.
Quando a dança aquece
e as ofertas correm na praça,
Geraldine arrisca a vida
ensaiando a farsa.
6. ROLA ROLETA
Cigarro aceso
lábios da noite,
Palpite solto
risco da sorte.
Vida afinada
trunfos do poker,
Homem fugindo
da bancarrota.
Olhares intensos
bola a girar,
Velhos parceiros
vão apostar.
Bas-fond da cidade
homens no trono,
Jogando fortunas
p'ra acabar no esgoto.
7. (ANJO) FEITICEIRO
O que farias tu de mim
se eu me atirasse daqui,
E entrasse por ti dentro
lentamente como o vento.
Sou imagem que escasseia
um pregador que fareja,
E abre as portas da mentira
rumando p'ro fim da avenida.
O que farias tu de mim
se eu me atirasse daqui,
Deste lado da fronteira
onde as luzes encandeiam.
À esquina do teu bairro
loucuras feitas em silêncio,
Entre o álcool e o cansaço
descobri o teu talento.
Não vou ficar por aqui
escolho a estrada e a palavra,
Escolho por mim passei por ti
podes guardar a imagem.
8. NOITE DENTRO
Beber sem prazer
pouco importa o sabor,
Mais um copo p'ra doer
na garganta do actor.
Vieste cedo e bonita
embrulhada em murmúrios,
Pões-me um dedo na ferida
mas o golpe é profundo,
O-oh, o-oh, o-oh
Ana, o sorriso beat
põe nos lábios um cigarro,
Nas mãos um leve tique
de animal domesticado.
Vieste por mim talvez
soprar nas brasas frias,
Pouco há para fazer
entre o flash das notícias,
O-oh, o-oh, o-oh
Carregar no botão
acender-se a imagem,
Abafar o volume
e amar-te na viagem.
É um filme americano
preenchendo o serão,
Tem o Óscar do ano
e a melhor produção,
O-oh, o-oh, o-oh.
9. ANTES QUE O DIA NASÇA
O álcool curtindo fantasmas
o corpo dormente ao longo das horas,
Aventuras no pensamento
marcando a vida do homem.
Conversas perdidas ao telefone
ruídos na penumbra da tv,
Um vaso florido à janela
a vida morde e já não sentes.
Dentro, fora, nuvens cinzentas
Dentro, fora, nuvens cinzentas.
São cinco lá fora e o Sol já se vê
esperei por ti mulher ausente,
Entre livros abertos e palavras mortas
bebe outra chávena de café quente.
Varri o lixo das horas passadas
cantei poemas que a cinza levou,
Lá fora o ritmo a despertar
a máquina cega já acabou.
Dentro, fora, nuvens cinzentas
Dentro, fora, nuvens cinzentas.
10. PALAVRAS
Velhos amigos
no pensamento,
Caindo ao ritmo
do contratempo.
Palavras certas
lâminas finas,
Garganta aberta
fogo nas tripas.
O berço da loucura.
Corpos felinos
dias azedos,
Vícios e vinho
por entre os dedos.
Musa esquecida
no meu lençol,
Dias sem brilho
olhos sem Sol.
O berço da loucura.
Armas a história
o fogo intenso,
Esticando a corda
espalhando o medo.
Andas à solta
no meu juízo,
Espetando fundo
no meu abrigo.
O berço da loucura.
Talvez eu faça coisas erradas
Mas o que deixas é quase nada
Silêncio turvo que não me agrada.
11. NOITES LISBOETAS
Começas num copo
talvez de cerveja,
Sentado à mesa
entrando na conversa.
Mulheres que chegam
por entre gargalhadas,
Um brilho nos olhos
e um vazio na alma.
Noites lisboetas
de histórias acesas,
Os bares estão cheios
segurando as presas.
Quartos alugados
ilhas de pouca luz,
Dá-me noites sentinelas
e vómitos de verde cru.
Noites lisboetas
de porta em porta,
Noites lisboetas
fantasmas à solta, à solta com rédeas.
Há um ser empoleirado
nas pernas de um juiz,
Tentando escapar
às misérias do país.
Amores num carro
num parque deserto,
Tapando a boca
dois gritos em seco.
Noites lisboetas
de porta em porta,
Noites lisboetas
fantasmas à solta, à solta com rédeas.
O sorriso é cínico
nas rugas do asceta,
Entre o whisky e o degelo
rio azul em folha branca.
E o mundo refaz-se
e o álcool já sobe,
Trocam-se beijos
nessa mesa de homens.
Noites lisboetas
de porta em porta,
Noites lisboetas
fantasmas à solta, à solta com rédeas,
Lisboa, Lisboa, Lisboa.
12. NOVE E TRINTA
Tenho o sorriso
pegado no rosto,
Os olhos sem brilho
marcados pelo esforço.
Os tempos são duros
no palco da vida,
Quem paga o bilhete
quer ganhar à partida.
A noite vem
a noite chega,
E uma vez mais
fantasmas à mesa.
Resta-me a bruma
corpos delinquentes,
Juntos iremos
beber champanhe.
Amanhã sozinho
cheirando as ideias,
Ao espelho narciso
confesso as asneiras.
Há poetas heróis
e poetas somente,
Buscando prazeres
quebrando correntes.
13. ÉBRIOS (PELA VIDA)
O blues na minha vida em calças de ganga vestidas
Esguias no traço, vagas no passo
Que as leva e traz no ruído do tráfego
Tanto faz, tanto faz...
Fim de tarde em café com uma amiga em naufrágio
Sacrossanto, altar de espanto, pouco p'ra dizer
A não ser, beber-te os olhos, beber em tragos
No silêncio do quarto de hotel.
O blues marcando a vida quando o grito desafina
E as ideias explodem nas veias do poeta
Traçando o ritmo, forçando a rima
Traçando o ritmo, forçando a rima.
Às vezes prefiro despejar copos no meu silêncio macabro
Nas margens deserto
Por entre os dedos o medo, o medo...
Estou a ficar bêbado, sabes
Bêbado na ânsia felina da espera
Que abre as portas do prazer...
Quero-te! Quero-te!
Cai agora em mim e desci entre aplausos
Davam-me honras militares e o lugar no cadafalso
Cai agora em mim e vou ser o maior
Quero ver-te de rastos a ganir mergulhando a meus pés
Quero-te! Quero-te!
Os meus olhos caem vermelhos sob o peso do dia
A música sabe a whisky
Quando o momento chegar
Quero ficar no pensamento da madrugada
Amanhã outro dia
Voltaremos cativos enquanto a promessa da vida
Resistir como esperança de sabor diferente
Tanto faz, tanto faz...
14. RUA DO CARMO
Rua do Carmo, rua do Carmo
mulheres bonitas subindo o Chiado,
Mulheres alheias, presas às montras
alguns aleijados em hora de ponta.
Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo.
Jornais que saem do Bairro Alto
putos estendidos, travando o passo,
Onde o comércio cativa turistas
quem come com os olhos já enche a barriga.
Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo.
Soprando a vida passam estudantes
gingando as ancas, lábios ardentes,
Subindo com pressa abrindo passagem
chocamos de frente, seguimos viagem.
Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo.
Agora, que a corrida estoirou
e os animais se lançam no esforço,
Agora, que todos eles aplaudem
a violência em jogo.
Agora, que eles picam os cavalos
violando todas as leis,
Agora, que eles passam ao assalto
e fazem-no por qualquer preço.
Agora, agora, tu és um cavalo de corrida.
Agora, que a vida passa num flash
e o paraíso é além,
Agora, que o filme deste massacre
é a rotina Zé Ninguém.
Agora, que perdeste o juízo
a jogar esta cartada,
Agora, que galopas já ferido
procurando abrir passagem.
Agora, agora, tu és um cavalo de corrida
Agora, agora, tu és um cavalo de corrida.
2. RAPAZ CALEIDOSCÓPIO
Um intelectual de ar estafado
um homem de faces cavadas na noite,
Cruza o Bairro Alto no silêncio dos ténis claros
em passos largos de dança.
Ele é um duro como rock
fã da violência,
E olha a vida pelos óculos
gingando cadência,
Veste cabedal que é napa preta,
Heyahoh la la la.
Quando a fome aperta
ele toma o caminho da fábrica ou do estaleiro,
E na próxima fuga entra na pele do animal
que o torna agressivo, reputação ideal.
Ele é um duro como rock
fã da violência,
E olha a vida pelos óculos
gingando cadência,
Veste cabedal que é napa preta,
Heyahoh la la la.
3. ESTOU DE PASSAGEM
Dá-me abrigo por esta noite
dá-me abrigo por esta noite,
Procuro conforto no teu cobertor
a noite prepara jogos de amor,
Febre que sobe e acende a fogueira
entre as chamas vivas da fogueira.
Dói-me cá dentro ao certo não sei
dói-me cá dentro ao certo não sei,
Dói-me o inferno da minha arte
dói-me o silêncio da tua carne,
Feito sossego nas minhas mãos
é quente o silêncio das tuas mãos.
Dá-me um bilhete p'ro inferno.
São línguas de fogo que entram no corpo
são línguas de fogo que entram no corpo,
São noites de assombro e descoberta
em busca da vida estou de passagem,
Parto contigo na minha bagagem
parto sozinho p'ra longa viagem.
Dá-me um bilhete p'ro inferno.
4. SER UM ACTOR
Há gelo nos olhos quando regresso
depois do concerto, circuito fechado,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Cinzas de luz, o sangue foi quente
soltamos as rédeas, a música ardendo,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Mas eu quero voltar, mas eu quero voltar.
O som do fracasso, o som da garganta
o truque do homem, no grito na dança,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Velhas feridas sangram a memória
o poeta abre-as e o sangue jorra,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Mas eu quero voltar, mas eu quero voltar.
Ser um actor, ser um actor, ser um actor,
Com sonhos queimados no esquecimento
com sonhos queimados no esquecimento.
Mas eu quero voltar, mas eu quero voltar.
5. GERALDINE
Dona de passagem na avenida
mulher de corpo de marfim,
Sopras o fumo na minha cara
e nem sequer me vês à passagem.
Geraldine foi violada
no quarto da mãe,
E agora passeia estoirada
no ritmo que a vida tem.
Sem descanso nem horário
Geraldine tem de cumprir,
P'ra sacar o ganho
que o chulo vai consumir.
Quando a dança aquece
e as ofertas correm na praça,
Geraldine arrisca a vida
ensaiando a farsa.
6. ROLA ROLETA
Cigarro aceso
lábios da noite,
Palpite solto
risco da sorte.
Vida afinada
trunfos do poker,
Homem fugindo
da bancarrota.
Olhares intensos
bola a girar,
Velhos parceiros
vão apostar.
Bas-fond da cidade
homens no trono,
Jogando fortunas
p'ra acabar no esgoto.
7. (ANJO) FEITICEIRO
O que farias tu de mim
se eu me atirasse daqui,
E entrasse por ti dentro
lentamente como o vento.
Sou imagem que escasseia
um pregador que fareja,
E abre as portas da mentira
rumando p'ro fim da avenida.
O que farias tu de mim
se eu me atirasse daqui,
Deste lado da fronteira
onde as luzes encandeiam.
À esquina do teu bairro
loucuras feitas em silêncio,
Entre o álcool e o cansaço
descobri o teu talento.
Não vou ficar por aqui
escolho a estrada e a palavra,
Escolho por mim passei por ti
podes guardar a imagem.
8. NOITE DENTRO
Beber sem prazer
pouco importa o sabor,
Mais um copo p'ra doer
na garganta do actor.
Vieste cedo e bonita
embrulhada em murmúrios,
Pões-me um dedo na ferida
mas o golpe é profundo,
O-oh, o-oh, o-oh
Ana, o sorriso beat
põe nos lábios um cigarro,
Nas mãos um leve tique
de animal domesticado.
Vieste por mim talvez
soprar nas brasas frias,
Pouco há para fazer
entre o flash das notícias,
O-oh, o-oh, o-oh
Carregar no botão
acender-se a imagem,
Abafar o volume
e amar-te na viagem.
É um filme americano
preenchendo o serão,
Tem o Óscar do ano
e a melhor produção,
O-oh, o-oh, o-oh.
9. ANTES QUE O DIA NASÇA
O álcool curtindo fantasmas
o corpo dormente ao longo das horas,
Aventuras no pensamento
marcando a vida do homem.
Conversas perdidas ao telefone
ruídos na penumbra da tv,
Um vaso florido à janela
a vida morde e já não sentes.
Dentro, fora, nuvens cinzentas
Dentro, fora, nuvens cinzentas.
São cinco lá fora e o Sol já se vê
esperei por ti mulher ausente,
Entre livros abertos e palavras mortas
bebe outra chávena de café quente.
Varri o lixo das horas passadas
cantei poemas que a cinza levou,
Lá fora o ritmo a despertar
a máquina cega já acabou.
Dentro, fora, nuvens cinzentas
Dentro, fora, nuvens cinzentas.
10. PALAVRAS
Velhos amigos
no pensamento,
Caindo ao ritmo
do contratempo.
Palavras certas
lâminas finas,
Garganta aberta
fogo nas tripas.
O berço da loucura.
Corpos felinos
dias azedos,
Vícios e vinho
por entre os dedos.
Musa esquecida
no meu lençol,
Dias sem brilho
olhos sem Sol.
O berço da loucura.
Armas a história
o fogo intenso,
Esticando a corda
espalhando o medo.
Andas à solta
no meu juízo,
Espetando fundo
no meu abrigo.
O berço da loucura.
Talvez eu faça coisas erradas
Mas o que deixas é quase nada
Silêncio turvo que não me agrada.
11. NOITES LISBOETAS
Começas num copo
talvez de cerveja,
Sentado à mesa
entrando na conversa.
Mulheres que chegam
por entre gargalhadas,
Um brilho nos olhos
e um vazio na alma.
Noites lisboetas
de histórias acesas,
Os bares estão cheios
segurando as presas.
Quartos alugados
ilhas de pouca luz,
Dá-me noites sentinelas
e vómitos de verde cru.
Noites lisboetas
de porta em porta,
Noites lisboetas
fantasmas à solta, à solta com rédeas.
Há um ser empoleirado
nas pernas de um juiz,
Tentando escapar
às misérias do país.
Amores num carro
num parque deserto,
Tapando a boca
dois gritos em seco.
Noites lisboetas
de porta em porta,
Noites lisboetas
fantasmas à solta, à solta com rédeas.
O sorriso é cínico
nas rugas do asceta,
Entre o whisky e o degelo
rio azul em folha branca.
E o mundo refaz-se
e o álcool já sobe,
Trocam-se beijos
nessa mesa de homens.
Noites lisboetas
de porta em porta,
Noites lisboetas
fantasmas à solta, à solta com rédeas,
Lisboa, Lisboa, Lisboa.
12. NOVE E TRINTA
Tenho o sorriso
pegado no rosto,
Os olhos sem brilho
marcados pelo esforço.
Os tempos são duros
no palco da vida,
Quem paga o bilhete
quer ganhar à partida.
A noite vem
a noite chega,
E uma vez mais
fantasmas à mesa.
Resta-me a bruma
corpos delinquentes,
Juntos iremos
beber champanhe.
Amanhã sozinho
cheirando as ideias,
Ao espelho narciso
confesso as asneiras.
Há poetas heróis
e poetas somente,
Buscando prazeres
quebrando correntes.
13. ÉBRIOS (PELA VIDA)
O blues na minha vida em calças de ganga vestidas
Esguias no traço, vagas no passo
Que as leva e traz no ruído do tráfego
Tanto faz, tanto faz...
Fim de tarde em café com uma amiga em naufrágio
Sacrossanto, altar de espanto, pouco p'ra dizer
A não ser, beber-te os olhos, beber em tragos
No silêncio do quarto de hotel.
O blues marcando a vida quando o grito desafina
E as ideias explodem nas veias do poeta
Traçando o ritmo, forçando a rima
Traçando o ritmo, forçando a rima.
Às vezes prefiro despejar copos no meu silêncio macabro
Nas margens deserto
Por entre os dedos o medo, o medo...
Estou a ficar bêbado, sabes
Bêbado na ânsia felina da espera
Que abre as portas do prazer...
Quero-te! Quero-te!
Cai agora em mim e desci entre aplausos
Davam-me honras militares e o lugar no cadafalso
Cai agora em mim e vou ser o maior
Quero ver-te de rastos a ganir mergulhando a meus pés
Quero-te! Quero-te!
Os meus olhos caem vermelhos sob o peso do dia
A música sabe a whisky
Quando o momento chegar
Quero ficar no pensamento da madrugada
Amanhã outro dia
Voltaremos cativos enquanto a promessa da vida
Resistir como esperança de sabor diferente
Tanto faz, tanto faz...
14. RUA DO CARMO
Rua do Carmo, rua do Carmo
mulheres bonitas subindo o Chiado,
Mulheres alheias, presas às montras
alguns aleijados em hora de ponta.
Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo.
Jornais que saem do Bairro Alto
putos estendidos, travando o passo,
Onde o comércio cativa turistas
quem come com os olhos já enche a barriga.
Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo.
Soprando a vida passam estudantes
gingando as ancas, lábios ardentes,
Subindo com pressa abrindo passagem
chocamos de frente, seguimos viagem.
Olha como é a rua do Carmo
Olha como é a rua do Carmo.
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